A importância da tolerância
Num momento em que o mundo enfrenta dois grandes conflitos, repletos de tensões, Ucrânia vs. Rússia e Israel vs. Hamas, nunca a tolerância foi tão pedida e debatida. Num momento em que as minorias se afirmam e reclamam os seus direitos, mais uma vez, a tolerância é apregoada e promovida. Num momento em que a sociedade está cada vez mais individualista e centrada no eu, nunca a tolerância foi tão necessária.
Mas afinal o que é ser tolerante? De acordo com o dicionário é a disposição para ouvir ou aceitar ideias, opiniões ou atitudes diferentes ou opostas às próprias, o que parece tão simples. O problema é que ser tolerante não é assim tão simples, aliás é muito complexo e complicado, razão pela qual, a 16 de novembro, a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura decidiu assinalar como o Dia Internacional para a Tolerância.
Na atualidade, a tolerância é mesmo o pilar fundamental de qualquer sociedade global, até porque permite que existamos harmoniosamente, que convivamos, respeitando sempre todas as diferenças, todos os credos, crenças, modos de vida e pensamentos, enquanto promove a compreensão mútua. É a virtude que sustenta a convivência pacífica na sociedade. É a tolerância que traz a harmonia às diferenças e que faz com que estas deixem de o ser. A tolerância é o respeito, a aceitação e a valorização da diferença e da diversidade cultural que existe no mundo, pelo que, a tolerância contribui para uma cultura de paz em substituição da guerra. Além disso, a tolerância também pode ser motivada pelo reconhecimento dos direitos humanos universais e das liberdades fundamentais dos outros, consagrados na Carta Universal dos Direitos do Homem que todos conhecemos, mas que tantas dificuldades temos, por vezes em fazer cumprir e promover. É por isso que não faz sentido que a diferença seja usada como forma de justificação de quaisquer infrações a estes valores fundamentais.
A tolerância também promove a empatia, pois convida-nos a ver o mundo pelos olhos do outro. Ao colocarmo-nos no lugar do próximo, podemos, mais facilmente, compreender as suas dores, alegrias, desafios e conquistas. É essa compreensão que nos torna mais bondosos, mais pacientes e mais dispostos a colaborar em prol de um bem comum. Assim, ser tolerante exige coragem e maturidade, uma vez que temos de enfrentar, olhos nos olhos, os nossos preconceitos e temos de abrir mão dos julgamentos rápidos e dos estereótipos. Esta é uma prática que envolve ouvir mais e falar menos, aprender com a diferença, até porque nunca devemos temê-la. O homem sempre teve tendência para encontrar explicações fantasiosas ou desadequadas para fenómenos que não compreende, como forma de se sentir mais seguro. Na época dos Descobrimentos, como ainda não sabíamos sobre o tempo, as tempestades, os tornados e os furacões inventamos Adamastores que engoliam barcos. Hoje, em que o conhecimento já existe, esses monstros deixaram de existir. Lá porque não temos, hoje, uma explicação plausível para determinada diferença, isso não quer dizer que ela não exista e que, por isso, não devamos usar a nossa empatia e tolerância para tentar entender o outro.
A um nível mais profundo, a tolerância é também uma manifestação de amor. Amor pela humanidade, pela justiça e pela paz. Quando somos tolerantes, contribuímos para a construção de um mundo mais justo, onde todos têm a oportunidade de florescer e expressar o todo o seu potencial, sem medo de julgamentos ou recriminações. Que possamos, cada vez mais, cultivar a tolerância. Que sejamos faróis de compreensão e aceitação, iluminando o caminho da humanidade para um futuro onde a diversidade é celebrada e a paz é uma realidade até porque, num mundo, cada vez mais globalizado, onde diferentes culturas se encontram com maior frequência, a tolerância é a chave para a manutenção da paz. Até porque ser tolerante também nunca significou que tenhamos de concordar com tudo e com todos, mas significa que temos de reconhecer a humanidade em cada pessoa, independentemente das suas escolhas ou opiniões. E, sobretudo, ser tolerante será sempre reconhecer que a diversidade é uma fonte de riqueza, que as diferenças nos completam e que, através da existência de um diálogo respeitoso, cordata e assertivo todos podemos aprender e crescer juntos. Num mundo onde cada um de nós possui crenças, valores e experiências únicas, onde cada um de nós é um ser único e irrepetível, a capacidade de aceitarmos e respeitarmos essas diferenças é essencial para o nosso desenvolvimento pessoal e para o desenvolvimento coletivo de toda a sociedade, até porque todos temos sempre algo a ensinar e algo a aprender com o outro.