Cooperação vs competição: realidades aliadas
Numa primeira análise, cooperação e competição poderiam parecer quase expressões antónimas, tanto na vida pessoal, como na área profissional. Afinal, é bom sermos competitivos, olharmos para a vida como se de uma competição se tratasse, tal com defendia Darwin, na sua tese da evolução das espécies, em que só os mais aptos sobreviverão. Existem também aqueles para quem o termo competição e a capacidade de competir têm uma conotação pejorativa, estando associada, frequentemente, a termos como rivalidade, egoísmo e stress. No fundo, ser competitivo é uma coisa, enquanto encarar todos os aspetos da nossa vida como uma competição é outra completamente diferente.
Por outro lado, se eu for apenas cooperante com aqueles com quem me relaciono conseguirei alcançar o sucesso? Não irão os outros abusar de mim e aproveitar-se do meu trabalho e das minhas ideias? Assim, haverá uma linha que separa, de forma indelével, a cooperação da competição em contexto pessoal ou profissional? Devemos substituir um pelo outro ou é possível que estas duas realidades coexistam? De acordo com Tauer e Harackiewicz,2004, a cooperação é definida como um grupo de indivíduos que trabalham em equipa, com vista a atingir um objetivo comum, enquanto a competição envolve, de alguma forma, a rivalidade entre indivíduos, uma vez que, neste contexto, uma pessoa tenta superar a outra. Assim, atitudes de colaboração, contribuição, apoio, contributo, participação e solidariedade relacionam-se com a cooperação, enquanto a oposição, rivalidade e concorrência estão associadas à competição.
A verdade é que, no limite, a cooperação pode fazer com que a equipa não evolua ou fique desmotivada, caso os seus integrantes não estejam empenhados na realização de determinada tarefa. Além disso, a cooperação pode funcionar como um desincentivo à criatividade e à inovação, uma vez que o grupo está constantemente focado na procura de um consenso e na realização de concertações e cedências. Em campo oposto está a competição, já que esta pode levar ao desgaste dos membros de uma equipa, enquanto promove a exclusão, a adoção de comportamentos prejudiciais e desleais e leva os indivíduos a descentrarem-se do objetivo comum, já que estão focados na competição entre si. Ao mesmo tempo, a competição pode provocar níveis de stress elevados, o que terá consequências na saúde física e mental do indivíduo.
A questão é que, se eliminarmos a competição da nossa vida, viveremos permanentemente com o medo se sermos “só bons” ainda que, em muitos contextos, ser bom seja mais que suficiente. Contudo, porquê ser bom só porque temos medo de nunca sermos incríveis? Ficaremos sempre no não-saber, no não-fazer e no não-ser? Não nos podemos recusar a competir apenas porque desconhecemos o resultado final do jogo. Nenhuma vitória está garantida, mas nenhuma derrota também nunca está assegurada à partida. Claro que ninguém lida bem com a derrota e com o erro, porém temos de aceitar que, desde os primórdios, a competição existe e foi essencial para o processo evolutivo. Além disso, é um facto inegável que a competição, per si, pode funcionar como uma força poderosa para impulsionar o nosso crescimento pessoal e profissional, funcionando como catalisador para uma jornada emocionante de descoberta em direção ao sucesso. A competição, quando saudável e conjugada com a cooperação, promove a superação individual e coletiva, estimulando a inovação, a criatividade e a excelência. Assim, o que podemos fazer para que a competição seja sempre saudável, onde os indivíduos competem de maneira justa, ética e respeitosa, tendo como objetivo o crescimento mútuo, a aquisição de competências e conhecimentos e a evolução?
Como ponto de partida devemos promover o respeito mútuo onde os “adversários” identificam e valorizam as competências do outro e identificam, na convivência, uma forma de aprendizagem e de evolução. Ninguém é perfeito e todo o ser humano erra. Todos somos feitos de qualidades e defeitos, pelo que devemos encarar as relações como oportunidades de aprendizagem e não como oportunidades para mostrarmos como somos perfeitos. Assim, se cada um de nós estiver focado no nosso desenvolvimento pessoal e melhoria contínua, facilmente conseguiremos converter a competição numa oportunidade para aprender com os desafios que iremos enfrentar, o que alavancará o nosso crescimento pessoal e capacidade de superação. Iremos facilmente aprender a superar os nossos limites, a desenvolver novas competências, como a comunicação eficaz, o trabalho em equipa e a negociação, e a procurar, incessantemente, a excelência. Além disso, a competição irá contribuir para o nosso bem-estar emocional e mental, proporcionando uma sensação de propósito, realização e satisfação pessoal. Tudo depende do nosso mindset e da forma como encaramos cada competição.
Contudo, todas as nossas “batalhas” devem ser regidas pela transparência, ética e integridade, sendo que as regras do jogo devem estar claramente definidas para todos os jogadores, atribuindo-lhes a escolha de aceitar ou não entrar na competição. Uma vez aceite o desafio, o comportamento de todos deve se regido por elevados padrões de ética, mantendo a integridade em todas as ações. Paralelamente, aliando a cooperação à competição, conseguiremos estimular a inovação com a promoção de novas ideias, abordagens e soluções criativas para a resolução de um qualquer problema, o que impulsionará o progresso. Enfrentar desafios e lidar com a pressão ajuda-nos a desenvolver resiliência emocional e mental, preparando-nos para enfrentar adversidades futuras com maior confiança e determinação.
Por fim, se as conquistas individuais forem reconhecidas e valorizadas, com base no mérito e no esforço, será possível promover a motivação e incrementar a autoestima dos participantes. É importante que todos aceitem, com dignidade e fair-play, as vitórias e as derrotas, parabenizando os vencedores e encorajando os vencidos. Desta forma, a aprendizagem será diária e contínua, o que fará com que estejamos mais bem preparados para competições futuras, até porque iremos aproveitar as lições apre(e)ndidas e as experiências adquiridas. É bom sermos obrigados a sair da nossa zona de conforto, uma vez que, só assim podemos ambicionar a excelência, numa busca incessante pela melhor versão de nós mesmos.